quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Olhos cegos




"As paixões do coração humano, como as divide e enumerou Aristóteles, são onze: mas todas elas se reduzem as duas capitais: amor e ódio. E estes dois afetos cegos são os dois polos em que se resolve o mundo, por isso, tão mal governado. Eles são os que pesam os merecimentos, eles os que qualificam as ações, avaliam as prendas, eles os que repartem as fortunas. Eles são os que enfeitam as fortunas. Eles são os que enfeitam ou decompõem, eles os que pintam ou despintam os objetos, dando e tirando, a seu arbítrio, a cor, a medida, e ainda o mesmo ser e subsistância, sem outra distinção ou juízo que aborrecer ou amar. Se os olhos vêem com amor o corvo é branco, se com ódio, o cisne é negro, se com amor, o demônio é famoso, se com ódio o anjo é feio
 (...)
Por isso se vêem com perpétuo clamor da justiça os indignos levantados e as dignidades abatidas, os talentos ociosos e as incapacidades com mando, a ignorância graduada e a ciência sem honra...
(...)Pode haver maior violência da razão ? Pode haver maior escândalo da natureza?... Pois tudo isso é o que faz e desfaz o a paixão dos olhos humanos, cegos quando se fecham e cegos quando se abrem, cegos quando amam e cegos quando aborrecem, cegos quando aprovam e cegos quando condenam, cegos quando não vêem e quando vêem muito mais cegos."


Pe. Antonio Vieira

Um comentário:

  1. podemos dizer que é isso que nos acontece qdo estamos cegos de paixão

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